domingo, 28 de fevereiro de 2010

"Alguns pensam que para se ser amigo basta querê-lo, como se para se estar são bastasse desejar saude..." (Aristóteles)


...então ela arrumou o próprio armário. Como se arrumasse um pedacinho de todas as coisas. Acreditava que assim todo o resto voltaria ao seu lugar. Arrumar é encontrar a melhor forma. E foi encontrando as melhores maneiras de guardar as coisas... Às vezes guardava umas coisas tão escondidas que era pra nem ela achar... E não ter que ver sempre... É que tem coisas que trazem muitas coisas com elas... Coisas do tipo lembranças e sentimentos... Não jogava nada fora, porque também queria lembrar às vezes.
Tudo, visto de longe, parecia um monte de retalhos. E ninguém, nem ela, sabia direito no que iria dar aquela bagunça toda antes da arrumação.
Mas no final sempre sai uma linda colcha desses mesmos retalhos...

E foi assim, entre caixas, prateleiras e embrulhos, que ela arrumou tudo.
E arrumou também a melhor maneira de ser ela naquela nova bagunça organizada que estabelecera.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

"(...) Os contos de fadas são assim. Uma manhã a gente acorda e diz: "Era só conto de fadas..." E a gente sorri de si mesma. Mas, no fundo, não estamos sorrindo. Sabemos muito bem que os contos de fada são as únicas verdades da vida (...)"

Porque ela sonhava


...ai ela sonhou um futuro azul. Com gerânios nas janelas sempre abertas e margaridas no jardim.
Uma casinha amarela com quintal onde se pudesse plantar. Lá plantaria amor, respeito, cumplicidade, lealdade, companheirismo e um montão de outras coisas.
E cada pessoa que chegasse àquela casa provaria dessas especiarias.
Pela manhã, o cheirinho de café avisaria que o dia seria bom, e, na mesa posta poderia faltar todo o tipo de alimento matinal, menos companhia e poesia. Essa sim era essencial para um bom começo de dia.
Da janela podia-se ver o horizonte... E todas as janelas davam para o nascer do sol, que todas as manhãs vinha acordar a moça, lembrando que a vida lá fora continuava vibrante e alegre.
Tinha também gente. Gente que morava na casinha, e gente boa que morava perto. Porque é preciso de gente pra se ser feliz.
Um cachorro, que mantinha a casa sempre viva.
E um cheirinho de alecrim...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Mesmo quando não

E ela sabia. Sabia que tecia seus sonhos dia-a-dia, mesmo quando parecia que não.
Ela tecia, chorava, sorria...
Sorria chorava tecia
Como uma aranha em sua teia, ela, cuidadosamente, fazia seu trabalho, mesmo quando parecia que não.
Tinha descoberto uns caminhos que levavam onde queria, mas ninguém acreditava neles. Por isso, às vezes caminhava sozinha.
Nesses caminhos, descobriu tantas coisas e tantos sentimentos que não fariam sentido a quem ousasse ouvir, caso pudessem ser ditos.
Sentimento-música. Sentimento-chão. Sentimento-não.
Sentimento-dicionário, que quer ser definição.
Sentimento não requer explicação. Mas caso fosse preciso, definiria como um salto, uma queda, uma quebra, um corte.
Ou qualquer outra coisa que dissesse muito e não dissesse nada.
Nessa confusão toda, ela só procurava uma parada onde pudesse comprar uma rima.
Sina.
Não tem.
Mas ela continua. Fio a fio. Ponte a ponte. Precipício a precipício.
Ofício.
Vício.
A menina que vivia em penhascos e cordas bambas queria o chão.
Mas chão não há.
Restava-lhe então os contos.
De fadas.
E os sonhos. E as teias....
E as veias.