quarta-feira, 24 de março de 2010

Dos tons...


O céu dela não tinha muitas cores. Apenas um tom de cinza parece-que-vai-chover e, vez ou outra, um azul meio tímido.
Mas, quando a chuva vinha, nada de arco-íris. Porque era preciso também o sol. E sol não tinha. Quase nunca.
Então, ainda pequena, decidiu pintar o seu próprio arco-íris, depois de pronto poderia vê-lo todos os dias, e todos poderiam vê-lo também.
Mas quando se é criança as pinturas ficam meio feias, tortas. Isso fez com que ela o apagasse várias vezes, para que ficasse cada vez melhor e mais bonito.
Acontece que um dia, quando já passava da metade do desenho, um moço apagou tudinho que a menina por tanto tempo tinha se dedicado a desenhar.
Mas não era um moço qualquer. Era um moço com muitas cores. Cores que ela gostava.
Um moço que sabia das cores. Não de todas.
Cinza, ele não tinha. Verde tinha todos os tons.
Marrom também não tinha, mas tinha uma infinidade de azuis que fazia os olhinhos dela saltarem de tanta alegria.
Roxo ele tinha poucos. Ela, todos.
Tinha um sorriso laranja e um olhar furta-cor que faziam suas pernas tremerem...
Ela, que sonhava tanto com o arco-íris pronto, talvez brigasse com ele, não fosse o sentimento vermelho escarlate com que ele pintou seu coração...
Não, não ficaria brava...
No fim, o que a deixava feliz e a motivava de verdade era estar sempre pintando.
Para ela, também, a felicidade era clandestina. Prolongava o tempo de chegar onde queria. Como se o percurso fosse mesmo mais importante que a própria linha de chegada.
Não sabia exatamente o que faria quando chegasse ao fim e o pote de ouro já estivesse pronto...
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Para o moço dos mil tons... Dela...

domingo, 21 de março de 2010


Então ela abriu as cortinas e viu um dia triste, quase cinza.
Mas eram as janelas. Bastava limpa-las para ver melhor.
Assim fez ela. E pode ver que era só poeira.
Uma poeirinha que deixava ela presa em casa.
Triste dela que não percebeu antes que a solução que procurava era água e sabão.

sábado, 20 de março de 2010







A menina que gostava de margaridas e queria uma bicicleta desaprendeu um bocado de coisas. Desaprendeu a sorrir. Foi quando resolveu chorar. Chorar não sabia mais.
Desaprendeu a correr, então decidiu andar apenas . Andar já não sabia. Sentou. Sentou porque desaprendeu a deitar e dormir e acordar.
Pois que já vivia acordada (acordada no sentido de estar de acordo, de acordo com um tantão de coisas que nem concordava).
A menina que um dia era só sonhos se perdeu pelo caminho. Mas ninguém sabia. Disfarçava bem, a danada. Maquiada e arrumada, como se todos os dias fossem sábado à tarde, e todos os domingos fossem felizes. E todas as luas cheias. E todas as noites, cinema.
"As árvores morrem de pé". Ainda estava viva, com poucas folhas, é bem verdade.
Mas com uma tristeza tão bela, mas tão bela, que dava gosto de ver...

terça-feira, 16 de março de 2010

"Ela teimou e enfrentou o mundo se rodopiando ao som dos bandolins..."



domingo, 14 de março de 2010

..........Eu quase que nada não sei....... Mas desconfio de muita coisa...


Alguém disse que um prédio não se constrói em um dia
E que um dia sem sorrisos é um dia perdido
Foi quando ela resolveu não perder mais tempo
Tijolo por tijolo
Sorriso por sorriso
Foi construindo uma morada dentro de si mesma
Que era onde moraria para sempre
Onde quer que estivesse
Então tratou de fazer uma bela morada
Aconchegante pra quem chegasse
E bem confortável para ela, que não sabia se pretendia sair
Vasos de flores
Cheirinho de alecrim
Um fazedor de ventos, que soprava sempre um brisa leve
E um sorriso no canto dos olhos
Que ninguém saberia o porquê...


sábado, 13 de março de 2010

"A vida tem caminhos estranhos, tortuosos, às vezes difíceis. Um simples gesto involuntário pode desencadear todo um processo. Sim, existir é incompreensível e excitante. As vezes que tentei morrer foi por não poder suportar a maravilha de estar vivo e de ter escolhido ser eu mesmo e fazer aquilo que eu gosto - mesmo que muitos não compreendam ou não aceitem."

sexta-feira, 12 de março de 2010




...foi quando ela comparou a vida a um ônibus em movimento.
Ela, que gostava de sentir o vento no rosto, pensou se seria mesmo bom uma viagem com ar condicionado e janelas fechadas.
Todo aquele conforto era bom até certo ponto.
Por um lado estava longe do calor, que andava derretendo a cidade.
Mas também estava longe do vento, que derretia o seu coração, quando esse estava para endurecer.
E sempre que ela sentia aquela agradável sensação, brotava um sorriso em seu rosto...
Ai resolveu que precisava decidir o que queria.
E decidiu sair ventarolando por ai....




terça-feira, 9 de março de 2010

Coisas que eu amo


Gota de chuva, bigode de gato
Laço de fita, cordão de sapato
Flor na janela e botão no capim
Coisas que eu amo e são tudo pra mim

Doce na mesa e sol na cozinha
Bico de pato, chapéu de palhinha
Banda passando e soando clarim
Coisas que eu amo e são tudo pra mim

Lona de circo, tapete de grama
Bola de neve e botão de pijama
Doces invernos chegando no fim
Coisas que eu amo e são tudo pra mim

Se a tristeza
Se a saudade
De repente vem
Eu lembro das coisas que eu amo e então
De novo eu me sinto bem

Gota de chuva, bigode de gato
Laço de fita, cordão de sapato
Flor na janela e botão no capim
Coisas que eu amo e são tudo pra mim

Língua de trapo e bochecha vermelha
Lua passando na fresta da telha
Brisa soprando e penteando jardim
Coisas que eu amo e são tudo pra mim

Bola de gude, nariz de cachorro
Uma igrejinha no alto do morro
Carta contando tin-tin por tin-tin
Coisas que eu amo e são tudo pra mim


Se a tristeza
Se a saudade
De repente vem
Eu lembro das coisas que eu amo e então
De novo eu me sinto...... Bem!

quarta-feira, 3 de março de 2010

" Ser humilde com os superiores é obrigação, com os colegas é
cortesia, com os "inferiores" é nobreza."

- Benjamin Franklin -
...gente é um troço muito esquisito mesmo. Ai ela entendeu porque tem pessoas que preferem os animais. Mas ela ainda acredita na recuperação da alma humana. E lembra-se das palavras de Brecht: "...Mas vós, por favor, não deveis vos indignar. Toda criatura precisa da ajuda dos outros..."

segunda-feira, 1 de março de 2010


...porque o dia acordou meio triste. E branco.

Mas ela tinha lápis de cor, e o amor que aprendeu em casa.

Daí vestiu seu melhor sorriso e saiu colorindo tudo que via pelo caminho.

Deixou algumas coisas ainda nos tons de cinza, que também era cor... E ficava tão bonito com algumas pequenas gotas da chuva da manhã, que ela achou que não deveria estragar a poesia daquele cinza.

Mas todo o resto foi ficando vibrante, vivo...

Então todos que passavam por esse caminho só tinham olhos para aquela infinidade de cores...

Ninguém reparou na rosa cinza, com gotas de orvalho...

Ninguém reparou na lágrima no canto do olho da menina...
Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom
Na varanda, quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão
Pra acalmar o coração
Lá o mundo tem razão
Terra de heróis, lares de mãe
Paraiso se mudou para lá
Por cima das casas, cal
Frutas em qualquer quintal
Peitos fartos, filhos fortes
Sonhos semeando o mundo real
Toda gente cabe lá
Palestinha, shangrilá
Vem andar e voa
Vem andar e voa
Vem andar e voa
Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar
Em todas as mesas, pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos, os destinos
E essa canção
Tem um verdadeiro amor
Para quando você for